Estrada Real
Rota dos Diamantes - Expedição
2005 - Bike
A viagem
PRIMEIRO DIA - 21.jan.2005
O câmbio quebrou depois de rodar 15Km de Diamantina. Tive
que pedir ajuda a um morador da região - Alan, que levou
de volta. Bike consertada, parti novamente, às 13h30. Nova
coincidência, a hora que, chegando a São Gonçalo
do Rio das Pedras, Alan voltava de Diamantina. Ele me deu carona
até a cidade, onde me hospedei no Refúgio dos Cinco
Amigos, sob os cuidados de Anna Maria Kuhme, uma suíca
erradicada no Brasil. Ela veio de férias, se apaixonou pelo
lugar e mora lá desde então. Caminhante e amante da
natureza, tem esperança de que o projeto Estrada Real
traga um sentido de preservação para o local.
SEGUNDO DIA - 22.jan.2005
Parti para Serro, onde eu queria ter passado a primeira noite.
Em virtude da quebra do câmbio, os planos foram mudados. Depois
de passar pela cidadezinha de Milho Verde, chega-se à
Serro. Fiquei na Pousada Serro Frio. A cidade é muito
aprazível e merece um bom passeio por lá. Recomendo,
inclusive, ficar na pousada que fica no centro, em um velho casarão
reformado.
TERCEIRO DIA - 23.jan.2005
Saindo de Serro, fui em direção a Conceição
do Mato Dentro. Decidi desviar do caminho originalmente traçado
para a Estrada Real, e pulei uma etapa (a sugestão do Instituto
era passar por Córregos, mas aí teria uma subida imensa
pelo caminho). Em Palmital, fiz uma parada para o almoço
e segui para Conceição, onde fiquei na Pousada Serra
Velha, muito bem cuidada e com um bom restaurante. Mas é
uma opção cara. Existem outras pousadas mais em conta
e com excelentes acomodações por lá, como a
Pousada Pires. Na verdade, senti melhor receptividade nesta
última e uma certa frieza na Serra Velha, além da
segunda opção ser mais barata. As outras opções
que visite, eu particularmente não gostei.
QUARTO DIA - 24.jan.2005
Saí de Conceição em direção
a Morro do Pilar. Nesse dia, uma subida de 10Km me fez repensar
o trajeto. Eu já havia estudado a altimetria deste caminho
e estava certo que faria apenas 1 trecho por dia. Chegando a Morro,
fiquei na Pousada do Tião. Simples, o lugar é
um casarão antigo. Tião é um hospitaleiro nato.
Preocupado, preparou meu jantar com muita simplicidade. Lá
conheci um médico de Catas Altas, que me recomendou passar
pelo lugar.
QUINTO DIA - 25.jan.2005
Após o café da manhã reforçado do
Tião, sempre pedindo queijo, bolo e frutas, importantes na
dieta peregrina, segui para Itambé do Mato Dentro. Novamente
uns 10Km de subida logo na saída do trecho. Curiosamente,
todos os dias o roteiro é o mesmo. Subida, altiplano, descida.
Cheguei em Itambé cansado. A primeira pousada era bem interessante,
limpa. Mas não tinha cafë da manhã. Resolvi procurar
outra. Foi quando parei no bar de um camping (Ponta de Areia).
Adauto, proprietário do lugar, me comentou sobre a pousada
da namorada. Fiquei meio receoso, mas resolvi aceitar. Quando ela
chegou com uma Fiorino prata, um susto e uma bronca: "menino,
eu quase morri de susto, quando sua bike apareceu na estrada!!!".
Ela achou que tinha quase me atropelado, mas eu estava seguro no
trajeto. Rimos da situação e resolvi ficar na Pousada
das Orquídeas, de Rosina Dias. Ficamos tão amigos
em tão pouco tempo que conversamos atë as 2h da manhã.
Lugar limpo e confortável.
SEXTO DIA - 26.jan.2005
A família de Rosina é um doce. Após o café
da manhã me despedi várias vezes deles, antes de seguir
para Senhora do Carmo, uma cidadezinha na roça, como eles
disseram. Embora houvesse muitas recomendações sobre
o caminho, me distraí e, sabe-se lá como, não
vi a placa que indicava o caminho correto. Praguejei contra a mineirada
que me disse não haver subidas no trecho e eu estava subindo
há 5Km. Segui em frente. A paisagem era deslumbrante. Quando
o odômetro marcou 24Km, eu vi que estava no meio do nada.
E eu já deveria ter passado umas cidadezinhas e chegado a
Senhora do Carmo. Conclusão: eu estava perdido. Um pouco
depois, um estalo, meus pés foram para o chão e o
pedal parou nas minhas coxas, arranhando um bocado. O quadro quebrou
bem onde o selim é preso. Fadiga de material. Improvisei
e segui adiante. Uns 4Km depois, cheguei a um cruzamento. A placa
indicava as distâncias: "Senhora do Carmo, 20Km. Itabira,
12Km". Depois de pensar um pouco, segui para Itabira. Era mais
perto e eu já estava cansado de pedalar com a bike improvisada.
Na última subida antes de Itabira, em um trecho que, na época
estava em obras, uma buzina ecoou atrás de mim. Eram Adauto
e Rosina. "Moço, você tá perdido, é?
Tinha que ter seguido para Senhora do Carmo, você está
muito longe!!". Contei sobre a quebra da bike e, novamente,
fui ajudado. Ele me levou até uma bicicletaria em Itabira.
Itabira, uma cidade mais estruturada era, segundo o Vanilson da
MotoShow & Bikes, a única cidade da região
onde era possível providenciar a solda de alumínio
da bicicleta. Fiquei hospedado no hotel Itália, que também
conta com um bom restaurante.
SÉTIMO DIA - 27.jan.2005
Com o trajeto todo alterado, tive a confirmação
de que seria necessário regressar para São Paulo no
dia 01 de fevereiro, em virtude das aulas no IMES,
um novo emprego. Decidi, então, seguir pela BR (asfalto),
até reencontrar a Estrada Real. Segui em direção
a Cocais, passando pelo famoso posto Campolar, na BR 262, um trecho
curto, mas muito perigoso em função de não
haver acostamento, passar muito caminhão e ser muito movimentada.
Pedalei forte nesse dia, aproveitando que era asfalto, fazendo 70Km
em um só dia. Resolvi pernoitar em Barão de Cocais,
pois chegava à cidade por volta das 18h00. Fiquei no Hotel
Hotur, considerado um dos melhores da cidade movida a aço
da Gerdau. É uma cidade barulhenta e movimentada, em função
da indústria local.
OITAVO DIA - 28.jan.2005
Saindo de Barão de Cocais, passei em Santa Bárbara,
há apenas 1 hora de Barão de Cocais. Visitei o Hotel
Quadrado e me arrependi muito de não ter seguido até
esta cidade. Bem mais calma, o hotel é simplesmente maravilhoso,
restaurado, aprazível e em uma cidade muito calma e bonita.
Segui viagem e acabei passando por Catas Altas, onde a matriz estava
sendo reformada. Tomei aulas de história com o responsável
pela restauração, tive um excelente almoço
no Restaurante Pico do Sol, simples, mas de refeição
consistente. Segui viagem à tarde, em direção
a Samarco, conforme indicava o mapa. Descobri, mais tarde, tratar-se
de uma empresa (não poderia ficar por lá). Meu plano
mudou, então, para ficar em Antônio Pereira, mas em
Samarco, me avisaram que a cidade é uma espécie de
extensão de Samarco e que não haveria pouso até
lá. A saída era seguir até Mariana. Senti um
frio na barriga. Eu havia pedalado pouco até aquela hora,
contando em ficar em Samarco ou Antonio Pereira. Disseram-me que
o trecho era quase todo descida. Acreditei, com muita fé
e fui. Cheguei a Mariana já anoitecendo.
NONO DIA - 29.jan.2005.
O pernoite aconteceu no Hotel Muller, considerado um
dos melhores da cidade. Na manhã seguinte, indo em direção
à Ouro Preto, pude conhecer o centro de Mariana, muito bem
conservado. Foi a primeira capital de Minas Gerais (depois foi Ouro
Preto e mais tarde Belo Horizonte). Destaque para a praça
onde ficam a Câmara Municipal (1768), o Pelourinho (1872)
e duas igrejas. Eu particularmente, gostei muito mais de Mariana
do que de Ouro Preto. O trecho até Ouro Preto é curto
- 12 Km, mas cheio de subidas. Ao chegar à cidade, comprei
a passagem de volta, deixei o alforge na rodoviária e fui
às compras. Além de artesanato, comprado em uma cooperativa
local, visitei algumas igrejas, almocei e fui atrás de caixas
de papelão e fita adesiva para embalar a bike. Tudo resolvido,
montei a bicicleta como pude e embarquei para São Paulo,
onde cheguei no dia 30.
Ficou o gostinho de não ter seguido adiante. O condicionamento
físico estava ótimo. Sem falar que no dia 01 de fevereiro
houve apenas uma recepção aos professores. Ou seja,
não era um evento assim tão importante - eu poderia
ter sido dispensado desta formalidade pela minha Coordenadora, mas
ela não entendera a importância pessoal deste projeto.
Se eu pudesse voltar ao tempo, teria seguido até Parati...
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